Bella

Com o tempo, Bella transformou-se numa onda amaldiçoada. Tantos foram os que chegaram, a povoaram, e se multiplicaram, que se transformaram eles próprios nesse imenso manto líquido. Bella, de transparente, ganhou uma opacidade cinzenta. O seu rugir, outrora um delicioso cristalino, transformou-se num grito humano, rouco e profundo.
Milhares de corpos compõem Bella. Minúsculas cabeças e esgares dantescos brilham nas mais ínfimas gotículas da espuma; para onde quer que se volte o olhar, lá está alguém.
A sua superfície de borracha, elástica, torna difícil o deslizar. As quilhas separam os corpos, que logo se unem, num abraço boçal e demoníaco.
Bella já não era.

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As time went by, Bella got transformed into a cursed wave. So many were the ones who arrived, multiplied, and transformed themselves into that large liquid rug. Bella, from transparent, gained a grey opacity. Its roar, once of a delicious cristalin, became a human scream, deep and hoarse.
Thousands of bodies compound Bella. Tiny heads and dantesc grimaces shine in the most meanest foam drops; wherever you look, there is someone.
Its rubber, elastic surface makes the slide harder. Fins separe the bodies, which soon join themselves again, in a bizarre, demoniac embrace.
Bella wasn’t no more.